História
Nascimento: 07.03.1910 (Alagoinhas-Ba)
Falecimento: 24.11.1991 (Rio de Janeiro)
Filiação: Antônio Pinto de Aguiar e Amerinda de Aguiar.
Trajetória Política:
Jornalista e Advogado; Diretor da Caixa Econômica Federal da Bahia e Ministro do Trabalho Industria e Comércio, 1933. Deputado Estadual, 1935. Secretário dasFinanças da Prefeitura de Salvador, 1959. Diretor da Petrobrás, 1960. Diretor Financeiro da Eletrobrás, 1963. Diretor Econômico-Financeiro da Itaipu Binacional, 1974. Membro da Academia de Letras da Bahia, da Academia Carioca de Letras; dos Institutos Geográfico e Histórico da Bahia, do de Sergipe e do de Minas Gerais.
Na Bahia
Um dos mais destacados construtores de nossa terra, ao longo de sua fecunda existência de 81 anos, em que exceliu em domínios tão distintos como o magistério de várias disciplinas, a tradução e produção de livros, a gestão financeira, o empreendedorismo, desdobrado em vertentes tão dispares como a construção de bairros residenciais e a edição de livros, à frente da Editora Progresso, a maior de que se tem notícia no Nordeste brasileiro.
Pinto de Aguiar, como passou a ser referido, desde sempre, reunia a rara virtude de conciliar o teórico, voraz leitor e amante das formulações conceituais, em domínios tão distintos quanto a literatura, a economia, a história, a geografia, a sociologia, o direito, a filosofia e as finanças públicas e privadas-, sem falar nas incursões vitoriosas em outras áreas-, com o espírito do realizador, capaz de dar vida a projetos para muitos tidos como inviáveis ou utópicos, por se situarem, aparentemente, acima dos meios perceptíveis pela sensibilidade comum.
De tão rica biografia, como é natural, dimana a dificuldade de enquadrar tão eminente brasileiro, nascido em Alagoinhas, numa categoria profissional única. Espírito poliédrico, por excelência, Pinto de Aguiar percebia as diferentes dimensões do conhecimento ou dos afazeres da vida como partes de um todo uniforme. E foi com esse insaciável espírito de perquirição que serviu à Bahia e ao Brasil em cada um dos diferentes postos públicos que assumiu, a exemplo de como Secretário das Finanças de Salvador, diretor da Petrobrás, da Eletrobrás e da Itaipu Binacional.
Manuel Pinto de Aguiar, o homem de sete instrumentos
Uns dizem que ele era o mago das finanças; outros, um construtor de bairros; para muitos, um inovador incansável; professor incomparável. Tão diversificada e abrangente foi a capacidade de realização de Manuel Pinto de Aguiar, que o homem do povo, na sua imbatível sabedoria, sentenciou: ele é um homem de sete instrumentos.
Posso garantir que a todos tocava com grande maestria e soberba harmonia, como se fora a reencarnação do próprio Rachmaninoff, seu compositor favorito. Suas obras são visíveis. O Parque Cruz Aguiar, que ergueu no barro do Rio Vermelho; o Jardim Lobato, na região petrolífera; os Barris, beirando o dique, cujo projeto de urbanização deixou pronto, e o Alto do Garcia foram algumas de suas criações na Secretaria de Finanças de Salvador. Por tanto realizar numa Prefeitura que encontrou falida, o seresteiro popular afirmou que ele era o mago das finanças -- ao invés de coelhos, tirava dinheiro da cartola! Qual o truque? Estranhou: “Não houve truque algum. Apenas bom senso, absoluta isenção e equilíbrio no tratamento de todos os casos. Junto a uma pequena base teórica e experiência prática, recuperamos a confiança do contribuinte”.
Partidário ferrenho do planejamento, criou a Comissão de Plano da Cidade, para tratar do crescimento ordenado de Salvador, órgão que hoje arquitetos e engenheiros pressionam o Prefeito para por em ação. Logo foi fisgado para a esfera nacional, a Diretoria Financeira da Petrobrás e, depois, da Eletrobrás. Teve de afastar-se da Faculdade de Economia da UFBA, que ajudara a criar; abandonou os seus negócios particulares, inclusive a Editora Progresso, instrumento de divulgação de muitos escritores baiano, à qual amava devotadamente. No Rio de Janeiro, dedicou-se por inteiro aos negócios do petróleo. Tornou-se um dos homens mais entendidos no assunto, em todo o País, como ficou provado. A ele devemos o Conjunto Petroquímico da Bahia (COPEB), que dizia ser a menina dos seus olhos; as articulações iniciais para a implantação da Usina Siderúrgica da Bahia (USIBA), para não falar na conclusão do terminal de Ilhéus, e na instalação de vários outros projetos, inclusive de refinarias em Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul. Com base nos estudos técnicos que de perto acompanhava, e nos resultados que a Inglaterra vinha obtendo no Mar do Norte, afirmou: “as mais promissoras perspectivas de produção de óleo, no Brasil, estão na plataforma continental; esses campos poderão dar a auto-suficiência ao Brasil”. Obviamente referia-se à hoje cantada e decantada camada do pré-sal. Na Eletrobrás, graças à estrutura econômico-financeira por ele implantada, pôde-se executar o Plano Nacional de Eletrificação. Também a ele deve-se a definição, bastante complicada, da organização bi-nacional da Eletrobrás. E porque há muito para registrar sobre este inovador e progressista baiano, decidi concluir neste 7 de março de 2010, quando se comemora o centenário do seu nascimento, a sua biografia que vinha escrevendo e espero seja publicada neste ano. Menos para que sirva de exemplo e mais para ficar claro que o homem, ainda em condições adversas como as que viveu Pinto de Aguiar, pode influenciar e mesmo promover mudanças na sociedade em que vive.Dentre tantas realizações, Pinto de Aguiar foi, acima de tudo, um homem feito de livros, como disse o jornalista Luiz Guilherme Tavares. Além da sua notável produção intelectual, publicou mais de 500 livros na Progresso, para a qual fez 27 traduções, do inglês, italiano, francês, além de escrever orelhas, prefácios, introduções etc. Vivia cercado de livros. Livro na mão, na cabeça, no coração. Creio mesmo que o seu coração tinha a forma de livro, cujas páginas eram preenchidas por gotas de sangue sob a forma de letras que, ao ritmo de suas batidas, enchiam-lhe as veias. Organizavam-se no cérebro, em linhas, páginas e mais páginas, formando livros que lhe chegavam às mãos para serem distribuídos Brasil afora, levando escritores baianos a quantos quisessem ler e saber. Assim foi esse brasileiro. Que sempre viva entre nós.
Consuelo Novais Sampaio